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Avaliação do PLE remoto e proposta de retorno do semestre 2020.1



A pandemia de Covid-19 está longe de reduzir definitivamente o número de contágios e de mortes. Até a semana que essa nota está sendo lançada, mais de 5,4 milhões de pessoas foram positivadas com o vírus e mais 157 mil tornaram-se vítimas fatais. Em algumas regiões já há sinais de uma segunda onda de contágios. As promessas de vacinas que possam imunizar a população dão conta de que somente no ano que vem ela poderá constituir alguma situação de segurança sanitária, de possível retorno das atividades presenciais.

A UFOP, assim como a grande maioria de universidades federais do Brasil, suspendeu as atividades de ensino do semestre 2020.1. Muitas das atividades de pesquisa e extensão mantiveram suas ações, destacando-se aqui aquelas que atuavam na produção de insumos para o combate e conhecimento científico da doença. Grande parte das atividades administrativas, de pesquisa e extensão foi mantida, adaptadas às novas condições remotas.

No fim do mês de agosto à UFOP implementou o Período Letivo Especial Remoto, em caráter voluntário. As diretorias do ANDES-SN e da ADUFOP expressaram em diversas notas os limites da modalidade à distância e a adaptação das atividades remotas na prática do processo de ensino e aprendizagem. O próprio caráter voluntário não se realizou na prática, já que o contrato de docentes substitutos corriam riscos de serem rompidos, discentes não poderiam participar dos editais de auxílio digital da PRACE e muitas/os docentes efetivas/os receavam que a insegurança do momento pudesse cobrar mais a frente a não adesão. Além disso, identificou a carência de estrutura tecnológica para que discentes pudessem acompanhar as aulas e docentes pudessem readaptar o conteúdo presencial de 18 semanas em apenas 8 semanas.

Em assembleia ocorrida no dia 2 de agosto foi constituída Comissão para negociação e acompanhamento de Protocolo Didático-Pedagógico e de Segurança para o Trabalho Docente. Essa comissão realizou reunião de negociação com a reitoria, relatada em assembleia do dia 16 de setembro. Neste mesmo dia a assembleia aprovou a participação dessa comissão nas reuniões do Comitê de Monitoramento Administrativo e Acadêmico, em que participam as demais entidades representativas da universidade, ASSUFOP e DCE. Parte dessa análise decorre do debate ocorrido na reunião do Comitê de Monitoramento do dia 20 de outubro, que tinha como pauta a avaliação do PLE remoto e o retorno do semestre 2020.1.

O resultado deste PLE que se encerrou no dia 23 de setembro não pode ser analisado restritivamente no número de matrículas requeridas pelos discentes. É importante verificar se todos os discentes tiveram condições tecnológicas para assistir as aulas assíncronas. A demora no auxílio digital para compra de pacote de internet e de computadores demonstra que essa primeira experiência não garantiu pleno acesso para todas/os. A compressão das disciplinas em 8 semanas, formuladas ainda na modalidade presencial, é outro fator que gerou muitos casos de adoecimento e dificuldades para o cumprimento dos objetivos das disciplinas.

Temos, portanto, que ser cautelosos no momento em que nos encontramos. É compreensível que muitas/os discentes estejam apreensivas/os com seu processo formativo. Contudo, como identificamos acima, a pandemia e seus efeitos deletérios não cessaram. Além disso, a avaliação do que foi o PLE remoto terá que identificar todos os seus limites intransponíveis e reconhecer o não cumprimento dos objetivos elencados em cada componente curricular, que foram formulados em projetos pedagógicos que não tinham como parâmetro o ensino remoto.

A proposta de retorno do semestre 2020.1, que ora é indicada para a comunidade universitária, precisa ser analisada com cautela. É positivo que ela já descarte o retorno em semestre comprimido tal como o PLE passado. Ainda assim, encarando o caráter transitório, restrito e experimental que essa modalidade foi executada, retomar o semestre suspenso pela pandemia exigirá um contexto do qual o processo formativo de milhares de discentes terá sérias consequências. Para tanto, indicamos algumas questões que precisam ser seriamente pensadas.

Em primeiro lugar, não é possível que retomemos um semestre inteiro de forma remota, feito nunca antes realizado, de forma intempestiva e com a previsão de quatro semestres em um ano e meio. A maioria das/os docentes manteve suas atividades administrativas, de pesquisa e extensão, tendo, na maioria dos casos, que adaptá-las ao novo contexto. Ou seja, essas/es docentes necessitam não só do direito de férias no primeiro mês de 2020, como não podem ficar sem essa previsão para o começo do ano que vem. É preciso distender esse calendário, permitindo um fôlego maior para docentes e discentes, ou avaliar semestre após semestre as condições de retorno posterior.

Outra questão importante tem relação para com a criação de condições de trabalho de docentes e de aulas para discentes. É preciso apresentar um quadro mais amplo das condições destas categorias, assim como dos técnico-administrativos, para o retorno do semestre 2020.1, já que o PLE remoto foi voluntário e nem todas/os as/os docentes e discentes participaram. O auxílio internet e computadores serão estendidos? Serão oferecidas monitorias e tutorias para as disciplinas? O empréstimo de equipamentos para docentes será estendido nessa etapa, com ampla divulgação dessa possibilidade?

Outra preocupação que se avizinha tem relação com problemas com a saúde mental que discentes e docentes estão sendo acometidas/os neste período. Em um contexto de docentes ministrando duas ou três disciplinas no formato remoto, com seus desafios, novidades e limites, e discentes acompanhando até cinco ou seis disciplinas toda a semana, será necessário um acompanhamento mais de perto deste processo e avaliações constantes.

Por fim, salientamos que já há movimentações do governo federal no sentido da institucionalização e extensão do ensino à distância. A portaria 434 da Secretaria de Educação Superior do MEC criou grupo de trabalho para avaliar as possibilidades dessa extensão, o que evidencia o alerta do ANDES-SN e da ADUFOP sobre o uso da experiência remota no ensino, como porta de entrada para a utilização desta ferramenta no período pós-pandemia. É fundamental que desde já indiquemos que os cursos presenciais não podem transformar parte de seus componentes curriculares em disciplinas à distância, que possamos fortalecer a educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.

Ouro Preto, 05 de novembro de 2020.

Diretoria da ADUFOP / 2018-2020

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